Cocriar o Futuro do Trabalho: o que estamos construindo hoje?

Publicado em 6 de novembro, 2025

por Eduardo Arruda 
Engenheiro de Produção e Administrador 
Professor e Executivo de Planejamento e Gestão



Hoje, um tema recorrente no ambiente corporativo é o Futuro do Trabalho. Ao pesquisar mais sobre o assunto e participar de projetos voltados à análise de dados e à construção de estudos sobre essa temática, inclusive direcionando minha pesquisa de doutorado para compreender melhor as variáveis que o influenciam, tenho refletido sobre um ponto essencial:
O Futuro do Trabalho não é um destino, mas uma construção cotidiana, feita de escolhas humanas, processos e avanços tecnológicos que se entrelaçam.  

Mais do que uma revolução digital, vivemos uma transformação sociotécnica, na qual pessoas e tecnologias aprendem a coexistir, colaborar e evoluir juntas. Neste contexto, a pergunta que realmente importa não é “como será o futuro do trabalho?”, mas “como queremos que ele seja, e o que estamos fazendo, agora, para cocriá-lo?” 

Por trás dos algoritmos, da inteligência artificial e da automação, há decisões humanas que moldam o tipo de sociedade que estamos criando. Cada inovação tecnológica carrega implicações éticas, culturais e educacionais. E cada profissional, gestor e educador tem o poder de influenciar o rumo dessa mudança, promovendo ambientes de aprendizado contínuo e processos mais inclusivos e humanos.  

O futuro do trabalho emerge da confluência entre três grandes forças: 

  1. Tecnologia e automação, que reformulam processos, profissões e competências; 
  1. Educação e aprendizagem contínua, que passam a ser o elo entre empregabilidade e propósito; 
  1. Dimensões humanas do trabalho como a colaboração, criatividade, empatia, que se tornam diferenciais em um mundo automatizado. 

Segundo Dries et al. (2025), na Journal of Management, o futuro do trabalho é um sistema sociotécnico formado por tecnologia, cultura e organizações. A adaptação exige mudanças em práticas, estruturas e valores para integrar pessoas e máquinas. Ou seja, não basta adotar novas ferramentas ou tecnologias, é preciso redesenhar o modo de trabalhar para que ambos prosperem juntos. 

A pandemia evidenciou isso. Quando organizações conseguiram alinhar processos, cultura e tecnologia de forma integrada, o trabalho remoto e híbrido tornou-se mais produtivo e sustentável. Onde isso não aconteceu, surgiram sobrecarga, isolamento e desengajamento. 

Dados do Future of Jobs Report 2025, do Fórum Econômico Mundial, e da pesquisa The Future of Work: A Research Agenda, publicada na Journal of Management (Dries et al., 2025), reforçam a dimensão dessa transição: 

  • 39% das competências atuais deverão mudar até 2030. 
  • 85% das empresas planejam investir em requalificação (upskilling) de seus colaboradores. 
  • 63% dos empregadores veem a lacuna de habilidades como o maior obstáculo à transformação organizacional. 
  • E a maioria das organizações (64%) prioriza hoje a saúde e o bem-estar como estratégias para atrair e reter talentos. 

Esses indicadores, reforçam que vivenciamos uma reconfiguração profunda. Complementarmente, Dries et al. (2025) destacam que compreender o futuro do trabalho requer ir além do determinismo tecnológico, e que só veremos um futuro de trabalho mais próspero e sustentável se pensarmos em sistemas que combinem tecnologia, pessoas e processos, e não um sobre o outro. 

Cocriar é alinhar tecnologia e humanidade 

Podemos observar diversos modelos práticos de cocriação sociotécnica para alcançar o Futuro do Trabalho desejado: 

  • Programas de requalificação interempresarial: que são considerados programas colaborativos em que diferentes empresas de um ou mais segmentos unem forças para mapear interesses, habilidades transferíveis e trajetórias de carreira compartilhadas.  
  • Design participativo de ferramentas internas: organizações que envolvem times operacionais no desenvolvimento ou melhoria de ferramentas digitais (apps de gestão, dashboards) conseguem melhor adoção das práticas e menos resistência as mudanças, justamente porque ajustam o “arranjo social” junto com a tecnologia. 
  • Modelos híbridos flexíveis, alguns estudos com abordagem dos sistemas sociotécnicos, mostraram que flexibilidade de local, de horário e de contrato se inter-relacionam com novas funções organizacionais, exigindo redistribuição de autoridade, novas lideranças e suporte social para tornar o modelo sustentável. 
Cocriação sociotécnica na prática: o exemplo do Café com Mercado – Senac RN 

Um exemplo inspirador dessa cocriação é o projeto Café com Mercado, promovido pelo Senac RN. A iniciativa estratégica funciona como um espaço colaborativo de diálogo e inteligência setorial, reunindo empresas de segmentos como, Turismo, Tecnologia, Hospitalidade, Comércio e Serviços, para discutir tendências, desafios e oportunidades emergentes em seus mercados. 

Mais do que um evento de networking, o Café com Mercado atua como um ecossistema de aprendizado coletivo e contínuo, que conecta o sistema técnico (tecnologias, processos, ferramentas digitais) ao sistema social (pessoas, cultura e competências profissionais). Ao reunir gestores, empreendedores e educadores, o projeto promove diagnósticos compartilhados das demandas de cada setor e identifica competências estratégicas necessárias para o futuro do trabalho local. 

Com base nessas interações, o Senac direciona o desenvolvimento de cursos, trilhas de capacitação e soluções educacionais personalizadas, alinhadas às transformações tecnológicas e às necessidades reais das empresas. O resultado é um movimento de requalificação interempresarial, no qual educação e mercado cocriam caminhos para fortalecer a empregabilidade, a inovação e a competitividade regional. 

Essa iniciativa traduz, na prática, o princípio de que o futuro do trabalho é construído em rede, com a convergência entre pessoas, processos e tecnologia. O Café com Mercado é, portanto, um exemplo concreto de como a educação profissional pode atuar como ponte sociotécnica, conectando o desenvolvimento humano à evolução digital e à sustentabilidade dos negócios. 

Quando entendemos esse movimento, percebemos que o verdadeiro futuro do trabalho será criado por quem compreende que inovação não é apenas sobre máquinas mais inteligentes, mas sobre relações mais inteligentes.

 

O futuro somos nós 

O futuro do trabalho não será imposto pelas tecnologias, mas construído por nós, nas decisões diárias, nas políticas de inclusão, nas oportunidades de aprendizado e nas formas de liderar com propósito. Cocriar esse futuro é compreender que a tecnologia só faz sentido quando potencializa o humano.  

É transformar o trabalho em espaço de realização coletiva, onde eficiência e empatia coexistem, e onde cada pessoa é parte ativa no processo de transformação organizacional. 

O futuro do trabalho está acontecendo agora, e cada um de nós é autor dessa história.


Referências 

Dries, N. et al. (2025). The Future of Work: A Research Agenda. Journal of Management. 

World Economic Forum (2025). Future of Jobs Report 2025. 

Singh, A. et al. (2022). Future of Work: A Systematic Literature Review. Foresight Journal. 

PwC (2025). Global AI Jobs Barometer. 

 

 


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